MESQUITA - Comandante admite que tráfico não acabou, e que polícia investe em crianças para quebrar ciclo do crime. Um misto de medo e al...
MESQUITA - Comandante admite que tráfico não acabou, e que polícia investe em crianças para quebrar ciclo do crime.
Um misto de medo e alívio. É o que moradores e comerciantes da Favela da Chatuba, em Mesquita, sentem hoje, um ano após a ocupação pela Polícia Militar. A região, onde traficantes agiam abertamente à luz do dia, foi ocupada em 11 de setembro de 2012, três dias após seis jovens serem assassinados. Mas a própria polícia admite que o tráfico não acabou.
Na chacina, seis rapazes, um de 19 anos e cinco menores, foram atacados por traficantes da Chatuba quando iam do bairro Cabral, em Nilópolis, a uma cachoeira no limite com Mesquita. Eles foram torturados até a morte.
Comandante da Companhia Integrada de Segurança Pública (Cisp) da Chatuba, o tenente Marcelo de Carvalho é o responsável pela ocupação desde seu início. Ele admite que, mesmo com a ocupação, o tráfico de drogas na região não acabou.
Segundo o policial, o principal objetivo é acabar com o braço que sustenta o tráfico. “Temos que quebrar o ciclo, fazer com que as crianças cresçam e não se tornem usuárias”, diz o comandante.
Segundo o tenente Marcelo, que tem 27 anos de carreira na Polícia Militar, a Chatuba era dominada por uma quadrilha muito violenta, que assassinava moradores. Desde a ocupação, afirma, apenas um homicídio foi registrado na favela. “E foi um caso passional, uma mulher que matou o marido”, conta.
Ele alega que a forma de atuação da quadrilha mudou nos últimos 12 meses. O comandante afirma que não há mais traficantes nas ruas com grande quantidade de drogas. “Quando abordamos um suspeito, a quantidade de material encontrada é pequena”, explica o oficial.
O tenente Marcelo revela que foram feitas 180 prisões e apreensões de menores desde setembro do ano passado. Ele reclama da legislação, que permite que os bandidos voltem logo para as ruas.
E diz que são comuns os casos de traficantes e outros bandidos presos graças a denúncias de moradores, mas que são soltos, mesmo sendo reincidentes. “Isso faz a população desacreditar no sistema”, analisa o comandante.
Apesar da aparente tranquilidade pós-ocupação, há quem ainda, com medo, prefira o anonimato ao falar sobre a Chatuba. Nascido e criado na favela, um comerciante afirma que a tomada da favela trouxe poucas mudanças.
Segundo ele, grupos de traficantes continuam atuando na Chatuba. “A diferença é que agora os traficantes não ficam desfilando com armas pelas ruas”, afirma.
Mas ele garante que se sentia mais seguro quando quando o tráfico dominava a região. Isso porque, segundo afirma, os traficantes não permitiam assaltos e roubos aos moradores. “Eles desapareciam com quem fizesse isso aqui dentro. Desde a ocupação, começaram a acontecer casos como esses”, lamenta.
POLÍCIA AUMENTA APREENSÕES E PRISÕES
Há três anos como delegado titular da 53ª DP (Mesquita), Júlio da Silva Filho também admite que traficantes continuam atuando na Chatuba, mesmo após a ocupação. Prova disso é que sua delegacia continua recebendo presos, armas e drogas apreendidas no bairro.
O delegado afirma que, até por causa da presença ostensiva da polícia, as apreensões aumentaram. “Hoje, por conta das ações que são desenvolvidas naquele bairro, esse número é bem significativo”, afirma.
O delegado explica que, apesar de os registros terem aumentado, a quantidade de drogas apreendidas caiu. “Há muita apreensão, mas de quantidades pequenas de droga, de varejo”, revela.
Ele conta também que, embora armas continuem sendo encontradas na Chatuba, as ações da polícia confirmam que os traficantes estão cada vez mais enfraquecidos. Segundo Silva Filho, as apressões têm sido de armas leves, como pistolas. “Não temos encontrado fuzis, o que nos leva a deduzir que esse tipo de armamento não existe mais lá”, diz.
O policial alerta, no entanto, que é preciso continuar o trabalho de repressão e de prevenção na Chatuba. O delegado avalia que só com a presença constante de policiais nas ruas será possível manter a sensação de segurança.
PROCURA POR ESCOLA CRESCE 68%
Um dos resultados positivos da ocupação da Chatuba pela Polícia Militar pode ser constatado diariamente na Escola Municipal Ernesto Che Guevara, uma das principais do bairro na Rua Lídia 654. Nela, foi registrado este ano aumento de 68% no número de alunos.
Segundo o diretor da escola, o professor Haroldo Dias Cerqueira, houve uma procura muito grande depois da chegada da polícia. “Saltamos de 520 para 877 alunos do ano passado para cá, divididos em três turnos”.
Cerqueira conta que, para atender ao aumento da procura e abrigar os novos alunos, a biblioteca e alguns laboratórios da escola deram lugar a novas salas de aula. As turmas, que antes contavam com, no máximo, 17 alunos, hoje são formadas por até 35 estudantes.
Desde março de 2011 na unidade, Cerqueira revela que, em muitas vezes, alunos faltavam às aulas por medo da violência. Em outras ocasiões, os responsáveis iam buscá-los antes mesmo do término da aula.
Segundo o diretor, o problema era comum principalmente no turno da noite. “A aula deveria acabar as 22h, mas, às vezes, os professores tinham que liberar a turma até uma hora e meia antes”, recorda Haroldo Cerqueira.
Diretora-adjunta da escola, Carla Odete revela que havia também dificuldades com professores, pois alguns concursados se negavam a dar aulas na Chatuba. O motivo: medo e insegurança.
Agora, garante a professora, a realidade é outra, e os professores que trabalham na escola estão lá porque querem. “A presença da polícia militar nos deu a segurança necessária para podermos trabalhar em paz”, explica a professora Carla Odete.
Um misto de medo e alívio. É o que moradores e comerciantes da Favela da Chatuba, em Mesquita, sentem hoje, um ano após a ocupação pela Polícia Militar. A região, onde traficantes agiam abertamente à luz do dia, foi ocupada em 11 de setembro de 2012, três dias após seis jovens serem assassinados. Mas a própria polícia admite que o tráfico não acabou.
Na chacina, seis rapazes, um de 19 anos e cinco menores, foram atacados por traficantes da Chatuba quando iam do bairro Cabral, em Nilópolis, a uma cachoeira no limite com Mesquita. Eles foram torturados até a morte.
Comandante da Companhia Integrada de Segurança Pública (Cisp) da Chatuba, o tenente Marcelo de Carvalho é o responsável pela ocupação desde seu início. Ele admite que, mesmo com a ocupação, o tráfico de drogas na região não acabou.
Segundo o policial, o principal objetivo é acabar com o braço que sustenta o tráfico. “Temos que quebrar o ciclo, fazer com que as crianças cresçam e não se tornem usuárias”, diz o comandante.
Segundo o tenente Marcelo, que tem 27 anos de carreira na Polícia Militar, a Chatuba era dominada por uma quadrilha muito violenta, que assassinava moradores. Desde a ocupação, afirma, apenas um homicídio foi registrado na favela. “E foi um caso passional, uma mulher que matou o marido”, conta.
Ele alega que a forma de atuação da quadrilha mudou nos últimos 12 meses. O comandante afirma que não há mais traficantes nas ruas com grande quantidade de drogas. “Quando abordamos um suspeito, a quantidade de material encontrada é pequena”, explica o oficial.
O tenente Marcelo revela que foram feitas 180 prisões e apreensões de menores desde setembro do ano passado. Ele reclama da legislação, que permite que os bandidos voltem logo para as ruas.
E diz que são comuns os casos de traficantes e outros bandidos presos graças a denúncias de moradores, mas que são soltos, mesmo sendo reincidentes. “Isso faz a população desacreditar no sistema”, analisa o comandante.
Apesar da aparente tranquilidade pós-ocupação, há quem ainda, com medo, prefira o anonimato ao falar sobre a Chatuba. Nascido e criado na favela, um comerciante afirma que a tomada da favela trouxe poucas mudanças.
Segundo ele, grupos de traficantes continuam atuando na Chatuba. “A diferença é que agora os traficantes não ficam desfilando com armas pelas ruas”, afirma.
Mas ele garante que se sentia mais seguro quando quando o tráfico dominava a região. Isso porque, segundo afirma, os traficantes não permitiam assaltos e roubos aos moradores. “Eles desapareciam com quem fizesse isso aqui dentro. Desde a ocupação, começaram a acontecer casos como esses”, lamenta.
POLÍCIA AUMENTA APREENSÕES E PRISÕES
Há três anos como delegado titular da 53ª DP (Mesquita), Júlio da Silva Filho também admite que traficantes continuam atuando na Chatuba, mesmo após a ocupação. Prova disso é que sua delegacia continua recebendo presos, armas e drogas apreendidas no bairro.
O delegado afirma que, até por causa da presença ostensiva da polícia, as apreensões aumentaram. “Hoje, por conta das ações que são desenvolvidas naquele bairro, esse número é bem significativo”, afirma.
O delegado explica que, apesar de os registros terem aumentado, a quantidade de drogas apreendidas caiu. “Há muita apreensão, mas de quantidades pequenas de droga, de varejo”, revela.
Ele conta também que, embora armas continuem sendo encontradas na Chatuba, as ações da polícia confirmam que os traficantes estão cada vez mais enfraquecidos. Segundo Silva Filho, as apressões têm sido de armas leves, como pistolas. “Não temos encontrado fuzis, o que nos leva a deduzir que esse tipo de armamento não existe mais lá”, diz.
O policial alerta, no entanto, que é preciso continuar o trabalho de repressão e de prevenção na Chatuba. O delegado avalia que só com a presença constante de policiais nas ruas será possível manter a sensação de segurança.
PROCURA POR ESCOLA CRESCE 68%
Um dos resultados positivos da ocupação da Chatuba pela Polícia Militar pode ser constatado diariamente na Escola Municipal Ernesto Che Guevara, uma das principais do bairro na Rua Lídia 654. Nela, foi registrado este ano aumento de 68% no número de alunos.
Segundo o diretor da escola, o professor Haroldo Dias Cerqueira, houve uma procura muito grande depois da chegada da polícia. “Saltamos de 520 para 877 alunos do ano passado para cá, divididos em três turnos”.
Cerqueira conta que, para atender ao aumento da procura e abrigar os novos alunos, a biblioteca e alguns laboratórios da escola deram lugar a novas salas de aula. As turmas, que antes contavam com, no máximo, 17 alunos, hoje são formadas por até 35 estudantes.
Desde março de 2011 na unidade, Cerqueira revela que, em muitas vezes, alunos faltavam às aulas por medo da violência. Em outras ocasiões, os responsáveis iam buscá-los antes mesmo do término da aula.
Segundo o diretor, o problema era comum principalmente no turno da noite. “A aula deveria acabar as 22h, mas, às vezes, os professores tinham que liberar a turma até uma hora e meia antes”, recorda Haroldo Cerqueira.
Diretora-adjunta da escola, Carla Odete revela que havia também dificuldades com professores, pois alguns concursados se negavam a dar aulas na Chatuba. O motivo: medo e insegurança.
Agora, garante a professora, a realidade é outra, e os professores que trabalham na escola estão lá porque querem. “A presença da polícia militar nos deu a segurança necessária para podermos trabalhar em paz”, explica a professora Carla Odete.
Via O Dia
Por Raphael Bittencourt
Foto: José Pedro Monteiro
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